segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

uma década de MERDAS!


mais uma vez uma década chega ao fim. e como diz o ditado popular “tudo que é MERDA nunca se acabará” (MERDA 1:17). nessa década que passou vimos a proliferação generalizada da MERDA. a MERDA saiu das privadas e invadiu as ruas. a MERDA saiu dos esgotos e inundou as ondas dos rádios, das televisões, das salas de cinema e os museus de arte que se dobraram ao poder, o fedor e a infinita sabedoria do nosso recurso mais natural e mais abundante que é a MERDA. difícil mesmo é encontrar algum tipo de luz no fim desse túnel, dessa via de MERDA que se tornou a auto estrada ao futuro. futuro cada vez mais escuro, mais sombrio mais sujo de MERDA. apesar dos pesares é sempre possível encontrar alguma coisa que desliza, que sai suave, sem fedor e sem lambrecada dessa MERDA toda que foi a década do twitter, orkut, facebook, iphone, ipad, 3G, 3D, MERDA e etc. o cenário musical talvez tenha sido um dos mais lamentáveis de todos nessa década. a musica digital provou para o mundo de MERDA que fazer musica não é mais uma arte, que fazer musica não tem mais valor, que musica não merece ser paga, respeitada e nem criativa, boa ou autêntica, a verdade é que o mundo fez da musica uma MERDA. vimos bandas mais preocupadas com seus cabelos, a cor de suas unhas, de seus tênis, de suas calças design. bandas preocupadas em imitar e piratear, bandas preocupadas em sair em capas de revistas, em matérias de blogs, em memes do twitter. bandas de MERDA fingindo ser descoladas por lançarem singles, eps, e álbuns inteiros apenas pela net e de graça. o modismo de MERDA também chegou a umas das artes mais refinadas e que algum dia, e isso não tem muito tempo, já significou alguma coisa, já representou algo para a sociedade, já foi muito mais do que simples MERDA. o blog mais sujo de toda essa MERDA decidiu fazer uma homenagem a aqueles que não deixaram se sujar com toda essa MERDA e que mesmo no olho desse furacão de MERDA conseguiu mostrar que nem só de MERDA faz o mundo. no final das contas alguns “álbuns” lançados nessa década do 2k conseguiram nos mostrar alguma coisa e que o ser humano ainda não vive só de MERDA. então vamos ao que interessa. aqui vai uma lista que obviamente foi criada pela MERDA. uma lista definitiva, uma lista que após dois dias de pesquisa exaustiva (via deitado na beira da piscina) vem mostrar o que teve de melhor, o ouro, a MERDA da década. os 10 “álbuns” que ainda deixam um fio de esperança que essa MERDA toda aqui não vai acabar mesmo no esgoto, na privada, no lixo junto ao resto da MERDA. então aí vai. divirta-se, compre alguns deles (literalmente) e não venha com esse papo viadagem, homossexual, retardado, culto de “vou baixar’’.

radiohead – kid a (2000)
talvez esse disco tenha entrado na lista por uma questão de nostalgia. quando o mundo esperava a chegada do novo disco do radiohead, “kid a”, corriam variados boatos pré “share’’. alguns diziam que thom yorke tinah morrido e que um computador teria gravado as faixas vocais do disco, outros diziam que não haveria disco nenhum e que a banda tinha acabado, teve até gente afirmando que os médicos teriam diagnosticado yorke com síndrome de down e ele estava internado, entre outras MERDAS. quando chegou as “lojas de discos” (isso ainda existia) recebi kid a com muita alegria e depois de ouvir o disco não fiquei decepcionado. apesar dos lançamentos prévios dessa MERDA de banda inglesa terem sido superiores ao kid a, o disco foi fiel ao instinto de inovar, renovar, experimentar e dar um fodas para a indústria, seus fãs ZN que foram atraídos por ok computer, e o resto da MERDA que tinha adotado a banda como os queridinhos dos neo-pseudo-pós intelectuais. com kid a, radiohead entrou em uma era de expansão e nunca mais olhou para trás, fazendo cada vez discos mais complicados, horríveis, interessantes, tediosos e conceituais. uma banda que fez muita MERDA porém sempre manteve fidelidade à experimentação. um disco que deve ser ouvido, apreciado e depois xingado como MERDA!

deltron 3030 – deltron 3030 (2000)
antes de queimar seu filme por completo com o clássico ZN “gorrilaz”, dj dan the automator fez uma parceria com o lendário “sci-fi rapper” del the funky homosapien. o resultado é uma viagem que começa em los angeles e termina no espaço sideral. com batidas intergalácticas, rimas extraterrestres, e sem se preocupar com a MERDA da imagem ou das vendas das MERDAS dos discos, a dupla “estupra” o ouvinte por 20 faixas de pura inovação com frases memoráveis e batidas que irão penetrar seus sonhos. todo MERDA que já disse a frase “eu gosto de musica” deveria ter esse disco em sua coleção.

director’s cut – fantomas (2001)
um álbum perfeito para quem gosta de musica “experimental”. influenciada em grande parte por john zorn, filmes de cinema (pré década de MERDA) e animação, a banda liderada por mike patton e composta por uma banda de super estrelas da MERDA, fez um álbum realmente inovador. com musicas maravilhosamente bem orquestradas a banda ataca clássicos da trilha sonora do começo ao fim. a bateria de dave lombardo, os vocais animalescos de mike patton junto às guitarras “melvinisticas’’ de buzz osbourne fazem dessa loucura uma pura sinfonia de hospício. um álbum independente ao pé da letra.

tomahawk – tomahawk (2001)
“o rock está morto.”, palavras mais verdadeiras talvez nunca sejam ditas. uma banda de rock virou uma raridade. as bandas que se dizem de “rock” ou não são ou são uma MERDA. na década da MERDA pouquíssimas bandas podem dizer que fizeram rock n’roll de verdade. o álbum de estréia de mais um projeto musical de mike patton chega a assustar o ouvinte assim que o botão play é apertado. com letras de terror, tempos desencontrados e porrada do começo ao fim, mike patton e seus soldados inovam o tempo todo em um disco que se tornou um clássico instantâneo, consagrando assim mike patton como o maior artista de nossa contemporaneidade (via viadagem).

American IV- the man comes around – johnny cash (2002)
johnny cash não nasceu depois de um filme medíocre, feito por atores medíocres, contando o lado mais medíocre da historia do genial, brilhante e peculiar artista americano. como toda lenda nesse planeta de MERDA a carreira do mr. cash começou muito antes da morte da musica. influenciando tudo que aconteceu na terra desde que suas musicas foram gravadas e reproduzidas para consumo em massa, mr. cash reservou para o fim de seus dias um disco que entra para o hall da fama e dá um banho na nova geração que insiste em fazer MERDA nova pra parecer com MERDA velha sem saber nem o que é MERDA. no estilo “spoken word” que o fez lendário, cash supera faixa após faixa mostrando seu estilo caseiro, caipira, jeca e porque é um dos artistas mais autênticos, livres e independentes da história dessa arte que está se manchando de MERDA por muitos bostas aí. um homem que sente, que ama, que sofre e que tem medo de morrer. o tempo passou, mas para johnny cash não tem tempo, não tem década, não tem estilo, não tem frescura, não tem viadagem. um verdadeiro MERDA.

beck – sea change (2002)
quando se diz “country music” um frio sobe a espinha e um pequeno resquício de vômito sobe na minha garganta. o termo que se tornou sinônimo de MERDA tem sido abusado, estraçalhado e jogado ao esgoto nas últimas décadas. aqui no brasil temos a idéia de que “country” é bruno e MERDone, luan santanta, cristian e alf, malu magalhães entre outros cagões de MERDA. o grande beck, após uma década de 90 de muito sucesso, entrou em 2k com a missão de continuar sendo o grande artista que lançou na década anterior álbuns inesquecíveis de alto nível criativo e execução musical. sua tradicional mistura de soul, hip hop, r&b, eletrônica misturado ao metal, rock, folk foi deixada de lado e em 2002 lançou uma versão country com toda sua irreverência de MERDA. o disco transcende as barreiras culturais do mundo cafona com o mundo cult, o antigo com o moderno, o passado com o futuro. sem nunca desmerecer o ouvinte que recebe uma aula de sutilezas musicais, execução perfeita, letras sentimentais e tudo que tem de melhor nesse estilão country que beck consegue assimilar. entre outras coisas o disco é perfeito para um dia de sol na praia, um dia de loucura num sitio, um dia de muito álcool em casa e uma tediosa tarde de domingo.

relationship of command – at the drive in (2004)
bom mesmo é colocar um disco pra tocar e imediatamente ele começa a te agredir. seu ouvido é usado e abusado por musicas barulhentas, rápidas, irritantes, épicas, tocadas com talento, vontade, raiva e fome. fome de fazer a melhor MERDA possível. fome de produzir um disco inesquecível, fome de fazer com que o ouvinte lembre pra sempre “isso ai é at the drive in’’, fome de mostrar pros outros bostinhas de MERDA que ficam passando chapinha nos seus cabelos que o bom e altíssimo rock puro na veia (via sangue nos olhos) continua correndo nos braços de alguns por ai”. at the drive in espanca os ouvintes com gritos, berros, guitarras violentas e distorcidas, baterias frenéticas e malucas e pancadas no pé da orelha. disco que faria o cabelo do cú desses MERDAS indie ai tudo ficar de pé.

desperate youth, blood thirsty babes - tv on the radio (2004)
a banda do brooklyn faz de sua estréia o melhor disco da década. o que também não é um prêmio tão grande assim, pois sabemos que no meio da MERDA até as moscas fazem a festa. mas o disco não é apenas um destaque de sua década. estilo próprio, essa é a maior arma do quarteto composto em sua maior parte por afros americanos que usam sua linhagem racial para combinar uma mistura de sons que não é muito comum para o homem branco. com a capelas que remetem a cantorias negras, baterias dançantes de loops intermináveis, guitarras assustadas e meio que fora de lugar em um mar de sonoridade “pós africana” (inventei isso) o rock apocalíptico e extremamente sentimental dos rapazes do t.v.o.t.r. é realmente bonito de ouvir. musicas que nos levam em ritmo de dança ritualística africana para as pistas de boates pós futurísticas estilo “mad max”. sem sombra de dúvida, na opinião de um mero MERDA como todos os outros MERDAS que possam ler esse trem aqui, o melhor disco de uma década que ainda não conseguiu se manchar, se sujar, se feder de MERDA por completo.

be - common (2005)
“o hip hop está morto”, outra frase que está fazendo cada dia mais sentido. mas para quem “curte” um hip hop mais orgânico e com letras semi poéticas, o sexto lp do lendário hip hopper “de mochila” de chicago tem seu lugar ao sol. o lp não tem a mesma astúcia, sagacidade e nem o mesmo suingado de seus predecessores. mas como a década foi uma MERDA o disco se destacou. com muitos samples e batidas chupadas de clássicos do r&b, da motown e do jazz da década de 60 e 70, que é característica marcante de seu produtor kanye west (antes dele se tornar a versão masculina da lady gaga), common se manteve relevante com seus raps sobre o dia-a-dia dos guetos americanos, das esquinas dos bairros negros, da cultura afro americana e com rimas que em momentos são pura poesia. então aperte play e “go!”.

relayted - gayngs (2010)
“groove” é uma palavra ZN e que anda sendo usada com total discrepância por um monte de MERDA aí com dred que anda de chinelo de couro, curte um reggae (via bob marley), fuma um (via bosta de boi) e curte um luau (via meu pau). mas a palavra e o que ela representa têm um valor que existe muito antes dessa geração “baiana do acarajé”. o groove simboliza uma musica feita para ser sentida dentro da alma e que faz com que seu corpo entre na atmosfera do som. assim “groovy” pode ser um bom adjetivo pra descrever essa nova e refrescante MERDA que é gayngs. com seu primeiro disco a banda mostra que o soul é uma coisa que a MERDA não mancha, e que soul não precisa de negros, cabelo black power, tênis adidas e nem de sofrimento social. o groove não convencional de gayngs é feito com inteligência, batidas eletrônicas de bom gosto e sem desgaste, linhas de baixo sutis e que guiam o ouvinte por uma experiência quase que surreal. disco lançado há pouco tempo que já entrou na lista do MERDA, por aí você como que tá difícil achar uma MERDA que não seja tão MERDA quanto o resto da MERDAS que tão rolando.

p.s. a lista está compilada por ano de lançamento e não em ordem especifica de MERDA nenhuma.
art: lapeyrouse wall / peter doig (2004)

Um comentário:

Júnia Penido disse...

AMO o Relationship of Command e o Kid A! Entram na minha lista com toda certeza!