na idade MERDA.

o tempo não parou. não me sinto mais imortal como um dia cheguei a imaginar. como para toda MERDA neste planeta que chamamos de casa, envelhecer é inevitável. lembro de um tempo quando as MERDAS eram mais fáceis. você tinha poucas preocupações e muitas primeiras vezes, primeiro peitinho (desculpa mãe), primeiros passos, primeiras palavras, primeiros sinais da MERDA do comportamento que você terá pelo resto da vida e vários outros primeiros. essa fase que eu vou chamar aqui de infância, durou muito tempo, mas como a ansiedade é um problema de toda MERDA da raça humana, independente de idade, eu queria ficar mais velho. via os MERDA dos meninos mais velhos e queria chegar lá. e então com o imperdoável fardo do tempo nas costas, como em um filme do buñel, ele passou. e cheguei à fase da adolescência. me sentindo como um MERDA de um super herói, eu vivi essa fase intensamente. Essa fase também é constituída por muitas primeiras vezes. primeiro beijo, primeiro amor, primeiras drogas, primeiros vícios, a primeira foda, primeiros conflitos com autoridades (via pais, escola, leis etc.), primeiras MERDAS e muito mais. esse tempo dourado de nossas vidas, que não volta mais, deixa muitas saudades, lembranças e faz com que o resto da vida pareça mera MERDA. depois de estabelecer-se como um MERDA, ao chegar aos 18 anos, você começa a pensar que agora sim é a hora de você fazer algo nesse mundo. agora começarão as grandes contribuições. olhando para trás é engraçado, em tão pouco tempo o ser muda muito e talvez a única coisa que fique seja a MERDA. mas com 18 anos tudo é infinito. se achando a MERDA mais cheirosa do chiqueiro, você procura o amanha, que sempre trará mais, mais coisas que nessa fase de MERDA são a gasolina que te movimenta. você tem fome de tudo, fome de viver, de aprender, de expressar, de falar, de beber, de meter, de acordar e de fazer MERDAS infinitas, das quais talvez nem podemos falar aqui. as noites, os cigarros, os copos de whiskey e cerveja são fartas e intermináveis e a MERDA é tudo que você realmente deseja. é difícil não sair dessa fase sem ficar olhando para trás. talvez a memória seja o fator MERDA da questão. a memória tem sua parcela nessa brincadeira toda que alguns chamam de vida, outros de morte, uns de sorte e poucos de MERDA. daí você se forma, não estou falando de formar apenas numa faculdade de MERDA que não significa nada. parece que também formamos na MERDA da vida. Sua visão já muda. são vários primeiros também nessa fase. primeiros cabelos caem, primeiras dores nas costas, primeiras dividas, primeiras traições, primeiras cobranças entre outras primeiras MERDAS. primeiras vezes que não são tão memoráveis quanto as de outras fases. nota-se nessa fase que muita MERDA está sendo feita ao seu redor e que essas MERDAS influenciam diretamente no seu bem estar. os sonhos que anteriormente alimentavam a fome da MERDA passam a dá lugar ao stress, preocupações e uma sensação que desse ponto em diante a MERDA vai bater na porta todos os dias. difícil falar de envelhecer, com 27 anos você ainda tem muita MERDA pra ver por ai. porque o mundo é na verdade um poço infinito de MERDA que não depende do passar do tempo. olhar pra frente não significa muito mais. voce na verdade não olha mais para frente, apenas ao redor, em volta, e o mais confortável se torna o que você deseja, a segurança começa contribuir para as MERDAS que você irá fazer. aquele espírito de aventura dar lugar a questionamentos e infinitas explicações sobre o porquê tudo é tão impossível. o tempo passa a ser um vilão que no final vencerá a grande batalha. o tempo é a kriptonita da MERDA. espero com medo, ansiedades (como sempre), e porque não esperança (‘’a esperança só morrerá depois da MERDA’’ MERDA 2:11) pelos anos que estão vindo por ai. sei que por falta de MERDA não vou morrer. talvez exista sim MERDA no fim do túnel. talvez tenha um grande lance, aquele grande momento onde os eixos da MERDA se encaixam e o sentido, vem de outros lugares. talvez esteja procurando MERDA nos lugares errados. talvez não tenha MERDA nenhuma mesmo. apenas a MERDA do tempo.

art: the mystery and melancholy of a street, giorgio de chirico (1914)